(...) ela ficou curiosa para ver, no fundo, atrás da divisória de carvalho, o grande alambique de cobre avermelhado, que funcionava sob a telha de vidro claro do pequeno pátio; o funileiro, que a tinha seguido, explicou-lhe como aquilo funcionava, indicando com o dedo as diferentes peças do aparelho, mostrando a enorme cucúrbita de onde caía um filete límpido de álcool. O alambique, com seus recipientes de forma estranha, suas espirais e tubos sem fim, tinha um aspecto sombrio, nenhum vapor lhe escapava; mal se ouvia um alento interior, um ressonar subterrâneo; era como se uma tarefa da noite fosse realizada em pleno dia, por um trabalhador taciturno, vigoroso e mudo. (...) O alambique, surdamente, sem uma chama, sem uma alegria nos reflexos apagados de seus cobres, prosseguia, deixava correr seu suor de álcool, semelhante a uma fonte lenta e obstinada que ao longo do tempo devia invadir a sala, se espraiar pelos bulevares exteriores, inundar o buraco imenso de Paris. O abatedouro – Tradução e notas de Dilson Ferreira da Cruz