Estes poemas de Érico Nogueira vêm aparecendo aos poucos, nos últimos quatro anos. Estão a mil anos do que quase qualquer poeta brasileiro pretende fazer agora, porque mergulham fundo nas possibilidades do Parnaso, com todo o risco que isso implica. Mas ele faz isso de um jeito tão singular, com uma voz tão Érico Nogueira, que não só me impede de desgostar, como me lança mesmo ao ponto da admiração. Livro antípoda do tempo, talvez o mais avesso ao que posso chamar de minha geração; porque não cabe nem nos saudosos conservadores da forma e da linguagem, nem nos experimentalismos vanguardeiros. Paira com um contratempo todo seu, uma mixagem de usos que não tem eco em outro escritor lusófono que eu conheça, embora dialogue com vários de uma só vez. Por isso, me pergunto, num quê de desalento, quantos darão conta dele, dos seus jogos de ironia e humor, do prazer quase mallarmaico com a linguagem, dos contrapontos cristãos, de tudo o que está lá, por toda a parte, em contradição. Eu sinceramente não sei. Mas, quando me sopra um vento céu acima, tenho certeza de que um livro como este, que me desconforma, é absolutamente necessário. Guilherme Gontijo Flores