Um divertido relato do Rio de Janeiro nos anos 50 pelas lentes de uma personagem (fictícia) estrangeira.
Manduca Simões criou a personagem Deirdre, uma inglesa carinhosamente apelidada de Dida, que veio morar no Rio de Janeiro, mais especificamente na efervescente Tijuca, nos anos 50. É ela, que agora aos 83 anos publica suas memórias, num verdadeiro jogo de meta-literatura em que autor e personagem se fundem. Método elogiado pelo professor e doutor em Literatura Ivan Proença que afirma ter se surpreendido pela audácia e originalidade na condução da narrativa.
Para Proença, que também assina um ensaio de apresentação à obra, Manduca traz um humor machadiano e consegue contemplar as gerações que viveram em sua juventude nos anos 40 e 50, na Cidade Maravilhosa. E não faltam referências: os cinemas da Tijuca (o bairro chegou a contar com 7 salas, incluindo o Cine Olinda com 3.500 lugares), as brincadeiras de rua, as músicas tocadas em bailes e até os programas de rádio e da ainda claudicante TV.
Para ajudar nessas “memórias”, o autor (ou será Dida?) se apoia em livros, muitos livros e filmes, muitos filmes, todos devidamente registrados em Notas ao final de cada capítulo. Não é exagero dizer que o leitor deveria de fato tomar nota de tudo para assistir ou ler o que é proposto, são pérolas dignas de 1.001 coisas para ler ou assistir antes de morrer.
A capa do livro merece destaque, foi criada especialmente para a obra pelo artista plástico capixaba Augusto Herkenhoff. A ilustração é uma inusitada girafa que Dida faz questão de enfatizar como uma grotesca caricatura, mas que ela, embora sendo realmente “comprida e sardenta” ao menos estaria agora, no ponto de vista da figura, se sentindo condoreira.
Xotes e xodós de uma inglesa tijucana é uma leitura capaz de deixar até os corações menos cariocas, alegres e vem com um recado de ambos, autor e personagem: nunca é tarde para começar uma nova história.
É a primeira incursão do autor de 74 anos na literatura.