Violência, novo romance de Fernando Bonassi, é uma síntese crua e brutal do Brasil. Com ironia e precisão, a trama e seus personagens retratam as violências políticas e sociais de uma nação erguida sobre heranças coloniais.
É sábado à noite quando um assessor político recebe, em sua casa, um escritor e sua esposa, professora universitária. O objetivo do assessor, ao convidá-los para o jantar, é o de conseguir o apoio do escritor à campanha de seu candidato. Mas um assalto à mão armada surpreende a todos e vai desvelar as camadas mais profundas dos atos violentos que atravessam o cotidiano brasileiro — físicos, políticos, sexuais, raciais, de classe e de gênero. Com narrativa crua e brutal, que se passa em um final de semana, Violência retrata um Brasil construído a partir da escravidão, do preconceito e da desigualdade social.
Os capítulos, curtos, sibilam pelas hipocrisias, privilégios e vícios da classe política dominante; pela corrupção e brutalidade policial, assim como sua vulnerabilidade; pelo racismo doméstico, político, carcerário, de sua manifestação mais sutil àquela que mata. Fernando Bonassi, mais uma vez, constrói um enredo extremamente crítico das atuais estruturas de poder e controle, com uma narrativa cômica e de forte teor cinematográfico, e personagens marcantes, extremamente reconhecíveis ao imaginário brasileiro.
Sem se esquivar das brutalidades, complexidades e contradições sociais, o volume encerra uma espécie de trilogia do autor, composta ainda por Luxúria e Degeneração. Nas palavras de Tony Bellotto, que assina a orelha:
“Violência é um espelho que, ao nos vermos refletidos nele, se estilhaça. Dos cacos pontiagudos reconstruiremos alguma imagem, e o cinismo redentor de Fernando Bonassi há de nos ajudar nessa tarefa inglória.
Prepare os curativos e ajeite-se na poltrona.
Você vai sangrar, mas dará risadas e certamente estranhará que esteja se divertindo com tanta infâmia. Risos não abafarão o arroto mudo de terror.”