Fatos, desejos e delírios... é impossível, por vezes, distingui-los nas histórias que criamos sobre nós mesmos. O quanto dessa história — vivida, desejada, inventada — que contamos é confiável? Vantagens que Encontrei na Morte do meu Pai, novo romance de Paula Febbe, escancara diante do leitor a mente de uma mulher após o choque da perda do pai. Alimentada por uma dor profunda, Débora, a narradora do romance, acaba por nutrir e perpetuar os abusos cotidianos sofridos.
Desamparo paterno, traumas e hiatos. Cortes e máculas que os homens imprimem quando invisibilizam a existência feminina. Se um pai já se foi, como essa cicatriz pode estar tão presente? Será mesmo o fim da história? Onde mora esse luto que não aconteceu como deveria ter sido? Onde reside o alívio que nunca a abraçou?
Débora trabalha como enfermeira, mas os pacientes que passam pelos seus cuidados estão destinados a permanecer bem longe da cura desejada. Como curar o outro quando o maior desejo não é a cura? “A verdade é que certas doenças trazem a paciência que algumas pessoas sempre deveriam ter tido”, pensa Débora cada vez que a porta se abre trazendo um novo rosto.
A mentira vive quando a verdade parece insuportável. Os abusos provocam distorções e cuidar também pode significar matar. Mata-se a dor, o abuso, e o desejo, mata-se a vida ainda não concebida e a possibilidade de vermos tudo por um outro ângulo. Mata-se a saudade de um pai que nunca esteve lá, a saudade de um pai que nunca existiu.
Na narrativa de Vantagens que Encontrei na Morte do meu Pai surge nosso espelho, nossa face mais perversa. Com uma voz única, repleta de verdade e experiente — ela também é roteirista premiada e colaborou com diretores como Fernando Sanches e Heitor Dhalia —, Paula Febbe, produz uma literatura cruel e ao mesmo tempo necessária, pois todos somos as marcas, os delírios e os desejos mais perversos de nossos pais.
Ao longo de seus nove anos, a DarkSide® Books cultivou muitos talentos brasileiros e agora se prepara para uma nova safra neste Halloween: Paula Febbe chega junto a mais sangue nacional na casa. Neste Dia das Bruxas tão especial, os leitores vão conhecer também novas obras de Bruno Ribeiro, Marco de Castro e Verena Cavalcante. O sangue corre quente na literatura nacional.