Os contos deste livro (ou seriam crônicas?) nos despertam para os sentimentos mais variados, como alegria, espanto, surpresa, pequenas decepções - tudo isso sem deixar de lado o bom-humor. Há também uma grande compilação de fatos e personagens reais, mas que no decorrer da leitura nos fazem questionar a própria realidade, sempre numa precisa escolha de palavras e em linguagem lapidada ao máximo do natural, que de tão saborosa, durante a leitura, nos faz ouvir como “causos”, daqueles em que os insights nos chegam nos detalhes, no mínimo, no escondido, naquilo que inicialmente pode não significar nada, mas, com uma palavra aqui, outra ali, uma lembrança, uma identificação absolutamente humana, nos coloca em estado de observação pessoal, como se estivéssemos nós mesmos – leitores – ali, a acompanhar as histórias e estes personagens bem de perto, porque tratam-se de personagens comuns ao cotidiano de todos nós; parentes, vizinhos, gente que encontramos na rua, pessoas comuns, cada qual com os seus dramas, dilemas e delícias que se constituem aqui em matéria-prima literária, e que vão nos revelando, aos poucos, suas belezas, verdades e segredos ocultos em cada um, em cada pessoa, em todas as pessoas, em todos nós.
Alex Moreira Carvalho é um autor que se dispõe a fazer uso da criatividade e do seu conhecimento como psicólogo para desordenar nossas emoções e sentidos com estes contos vivos do nosso universo humano. Mas é no subjetivo destes textos, nas entrelinhas, nos significantes e significados, no sabor das palavras e no amargo da falta delas que ele extrai o sumo dos seus contos, de suas histórias, pois como ele mesmo deixa claro no início deste livro: se há algo bom em escrever só pode ser isso: o momento em que faltam as palavras.