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Lançado cinco anos após a publicação do escandaloso Trópico de Câncer, a sequência autobiográfica Trópico de capricórnio mantém a polêmica narrativa sobre liberdade e erotismo mas sem repetir a fórmula.
Trópico de Capricórnio mantém a sexualidade e o erotismo em primeiro plano, porém não é simplesmente uma repetição dos temas e do estilo apresentados em Trópico de Câncer. Por meio de uma narrativa ainda mais densa e subjetiva, Henry Miller desfia seu passado em Nova York durante os anos 1920 – antes de embarcar para Paris e fazer da capital francesa a sua festa individual. A obra não é libertária como Trópico de Câncer. Pelo contrário, nele, o sexo parece mais escapismo do que celebração, fuga de uma realidade cruel e opressora. Mas, mesmo pessimista, a situação extremada parece pedir uma reação, que, como se sabe, viria com a ida a Paris.
Nesta obra, Miller, em sua arrogância e em sua bondade, é ainda mais honesto com a natureza humana. Afirma:""(...) parece que fiquei completamente indiferente: a maioria das crianças se rebela, ou finge rebelar-se, mas eu estava cagando. Era um filósofo quando ainda usava fraldas. (...) sou até um pouco pior. porque via com mais clareza que eles e ainda assim continuava impotente para alterar minha vida. (...) Viviam me exortando a não ser tolerante, sentimental nem caridoso demais. Seja firme! Seja duro!, advertiam-me. Foda-se!, eu dizia a mim mesmo, vou ser generoso. maleável. misericordioso. tolerante, carinhoso. No início ouvia todo mundo até o fim; se não podia dar um emprego a alguém. dava-lhe dinheiro, e se não tinha dinheiro, dava-lhe cigarros ou coragem:'
Com toques autobiográficos, a história se passa nos anos 1920 e relata um passado permeado por considerações existenciais e em tons de cinza, da falta de trabalho e de dinheiro a um emprego odioso.
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