Prepare-se o leitor para uma das máximas aventuras da cultura ocidental, um suculento naco do que de melhor a experiência humana acumulou em todos os tempos. É a guerra de Tróia, legendário episódio protagonizado por figuras que entraram na corrente sangüínea da cultura mundial. Gente como Aquiles, Heitor, Ulisses, Agamênon, Enéias. Tudo começa, segundo a tradição, por um caso de amor: um troiano chamado Páris rapta a mulher mais linda de seu tempo, Helena, que já era casada com Menelau, grande líder grego.
Por causa disso, junta-se um poderoso exército composto pelos vários reinos do mundo grego, com centenas de navios e milhares de homens, que vão cercar, combater e finalmente destruir Tróia, rica e poderosa cidade localizada na beira do mar Negro, em território hoje pertencente à Turquia. Um dos episódios dessa guerra entrou até para o repertório da conversa diária – o famosíssimo caso do Cavalo de Tróia, o presente grego que decidiu a luta em favor dos que atacaram a cidade.
De que modo tudo aconteceu? Como foi que a sedução de Helena começou? Seus pais eram mesmo um deus e uma mulher mortal? E Páris, que vivia como simples pastor, como é que se torna poderoso a ponto de provocar uma guerra que dura dez anos e mata a fina flor dos homens de sua época? Aquiles realmente foi o maior guerreiro de todos os tempos? Ulisses foi o mais astuto homem? Que papel tiveram os deuses nisso tudo? De que lado ficaram?
Tudo isso vai contado aqui, num livro de leitura saborosa, em linguagem fluida, mas sempre atendendo a uma concepção rigorosa, que processa as informações literárias, mitológicas, lendárias, para contar os principais movimentos da guerra e de seus bastidores, na ordem em que aconteceram. Cláudio Moreno, professor e estudioso da cultura clássica, conviveu por muitos anos com os relatos da tradição grega, a começar da Ilíada, de Homero, poema narrativo do século 8° a. C. Leu essa tradição, meditou sobre ela, cercou-se da melhor bibliografia sobre o tema; reproduziu oralmente essas histórias em incontáveis aulas, para deleite de seus milhares de ouvintes, ao longo dos anos; e agora escreveu esse relato, síntese do helenismo em um momento de apogeu. Combinando o estilo homérico de narração com um ritmo de romance, Tróia resulta numa leitura prazerosa, com a vantagem de introduzir o leitor iniciante ao mundo grego e, para os mais experientes, o grande serviço de pôr em ordem todas as informações relevantes acerca da monumental guerra.
A intimidade erudita de Moreno com esta literatura é, portanto, o ponto de partida de Tróia, não seu ponto de chegada. O leitor vai logo perceber o valor do vibrante e colorido mundo grego clássico, com seus deuses caprichosos e profundamente parecidos com os homens que os conceberam e com seus heróis até hoje modelares. E vai se aproximar disso da melhor forma possível: lendo uma história profunda, radicalmente humana.
Apresentação de Luís Augusto Fischer