Simões Lopes Neto modernista é uma investigação histórica sobre a consagração póstuma desse escritor gaúcho que gozou de prestígio regional e lançou mão de contatos nacionais importantes em sua breve carreira literária – não correspondendo, portanto, ao lugar-comum de um artista “incompreendido e injustiçado em seu tempo”. Mas Simões Lopes Neto também sofreu reprimendas do Partido Republicano Rio-Grandense devido em razão de sua obra heterodoxa em termos de memória histórica e que, ademais, era formalmente considerada estrangeira (tributária da gauchesca praticada nos países fronteiriços, Argentina e Uruguai). Isso certamente limitou o alcance de sua literatura e sua legitimidade nos círculos cultos do início do século XX. O advento dos projetos modernistas de transformação da literatura brasileira, poucos anos após a morte de Lopes Neto, acabaria mudando sua condição no campo. Seus “pecados” se tornariam trunfos. Mas, como este livro mostra, nada se deu naturalmente. Escritores da nova geração leram e se apropriaram da obra simoniana, obtendo nela modelos de produção de narrativa e de poesia. Também se empenharam coletivamente em resgatar o personagem Simões, ressignificar criticamente seus textos, dar-lhe novas edições apuradas e construí-lo como um modernista avant-la lettre, prenúncio de toda uma tendência de renovação estética, ou melhor, um “pré-modernista”, para usar uma conhecida e problemática categoria. Sujeitos os mais variados compartilharam esse projeto, como Augusto Meyer, poeta, ensaísta e diretor do poderoso Instituto Nacional do Livro; Erico Verissimo, famoso escritor e editor da Globo, de Porto Alegre; Aurélio Buarque de Holanda, crítico e filólogo renomado, professor do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro; entre outros. Por que isso aconteceu? Também eram diversos os interesses envolvidos, o que gerou alguns conflitos e muitas disputas pelo legado do escritor. É essa a história narrada e analisada por Jocelito Zalla neste livro: como Simões Lopes Neto se tornou Simões Lopes Neto, na forma como o conhecemos hoje, à revelia de suas próprias ambições e identificações intelectuais.