Com uma linguagem refinada, o jornlista e escritor Edney Silvestre expõe com crueza a maldade humana, e é capaz de mergulhos psicológicos de imensa sensibilidade, contextualizando seus personagens social e historicamente.
Com o olhar experiente e a sensibilidade de quem já cobriu alguns dos eventos mais marcantes da história mundial recente – dos atentados de 11 de setembro às torres gêmeas do World Trade Center em Nova York à histórica visita do Papa João Paulo II a Cuba, passando por uma série de reportagens sobre o Iraque antes da derrubada de Saddam Hussein –, o autor combina lirismo e registro histórico em Se eu fechar os olhos agora, ao narrar a investigação de um crime brutal durante um dos períodos mais importantes da história brasileira.
Em abril de 1961, Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar pelo espaço, deixava a órbita terrestre, descortinando um universo de possibilidades para a Humanidade e uma vitória tecnológica num século que parecia caminhar para uma era de relativa paz, progresso e justiça social. No mesmo dia, em uma pequena cidade da antiga zona do café fluminense, dois meninos de 12 anos— de classe média baixa, um filho de ferroviário, outro de açougueiro — encontram o corpo mutilado de uma linda mulher às margens de um lago onde vão fazer gazeta. Assustados, os garotos chamam imediatamente a polícia e passam por um duro interrogatório, no qual são tratados mais como suspeitos do que testemunhas.
A brutalidade do assassinato e o descaso absoluto com o ser humano impressionam os meninos, que não aceitam a explicação oficial do crime, segundo a qual o culpado seria o marido, o frágil dentista da cidadezinha, motivado por ciúme. Começam uma investigação ajudados por um senhor que mora no asilo da cidade, um ex-preso político da ditadura Vargas, que esconde a motivação para seu interesse no assunto. Dele, os meninos ouvem um aviso que marca o começo de um turbilhão de acontecimentos surpreendentes: “Nada neste país é o que parece.”
Em pouco tempo, eles percebem que a mulher tem uma estranha ligação com os homens mais importantes da cidade e que seu passado é nebuloso, repleto de mentiras. A investigação irá desvendar ainda um perverso painel em que violência sexual, racismo, corrupção e espúrias alianças políticas — que tentam a qualquer custo manter o poder — se misturam, numa época em que o Brasil caminha para a industrialização. Para os meninos, será um terrível caminho de amadurecimento e chegada à vida adulta, ainda no início da adolescência.
Em sua estréia literária, Edney Silvestre constrói uma trama eletrizante e comovente, repleta de referências a um dos momentos mais importantes do cenário político e cultural do Brasil e do mundo.Transitando por gêneros tão distintos quanto o policial, o histórico e o romance de formação, Se eu fechar os olhos agora, que levou seis anos para ficar pronto, é uma leitura vertiginosa, que retrata a essência da nossa sociedade.