Foi em nome do prazer que Ana Maria Machado decidiu estudar Jorge Amado, adorado pelos fãs e inicialmente saudado pela crítica como fantástico romancista. A essa reação, entretanto, seguiu-se uma guinada nos meios acadêmicos, sobretudo em certas regiões do país, que passaram a classificar a sua obra como algo melhor. O criador de Gabriela, Tieta e Teresa Batista, para ficar em apenas algumas de suas personagens femininas mais famosas, teve uma carreira internacional de sucesso, com os direitos de suas obras vendidos para dezenas de países. No Brasil, sua projeção não foi menor. Ignorando completamente a comunidade acadêmica, o público devorou seus livros, tornando muitos deles best-sellers. O sucesso do autor obrigou a crítica a quebrar o silêncio e tentar decifrar o que havia, afinal, na prosa de Jorge Amado que seduzia tanto os leitores. No início, muitos classificaram a sua obra como algo menor; depois, vieram aqueles que, destituídos de preconceito, começaram a analisar o autor em toda sua complexidade. Este Romântico, sedutor e anarquista, publicado pela primeira vez em 2006, pertence a essa segunda seara. Ana Maria Machado passa em revista as qualidades narrativas do autor, destaca sua capacidade como contador de histórias, o realismo de seus personagens e discute pontos cruciais em seus livros, como “a fartura de visões e a opulência de recursos” em Tenda dos milagres, ou as frequentes crenças de que o futuro pode e deve ser melhor. Assim como Jorge Amado, Ana Maria Machado é dona de uma prosa fluente, clara e sedutora. Para os fãs e estudiosos do autor, esta edição, que abre com um prefácio da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, é uma oportunidade única de olhar para um dos mais importantes escritores brasileiros, sem amarras sociais ou preconceitos de classe.