Esta obra, escrita em primeira e em terceira pessoa, apresenta como narradora onisciente a personagem Rosa, que acompanha a trajetória de uma de suas avós, Helena, e de sua família, por vários anos. Criada em um lar progressista, Helena integra um núcleo familiar em que a presença feminina é preponderante, e onde a sororidade atua como força motriz.
Advogada, atriz, yogini e escritora, a cidadã do mundo Deise Warken, com base em suas inúmeras viagens em busca de (auto)conhecimento, constrói sua Helena de forma meticulosa, mostrando em detalhes o seu desenvolvimento desde a infância, convocando (e provocando) a personagem a também buscar conhecimento e a se entender como mulher, como cidadã política e como pessoa. E é justamente a partir deste ponto que a escritora Deise nos apresenta o que há de mais valioso em seu livro: a sensibilidade, a sutileza e a rica forma de narrar e de (d)escrever.
Em companhia da(s) personagem(ens), mergulhamos nas filosofias dos povos originários latino-americanos e indianos e em rituais ancestrais, que mostram a relação com a terra e com os elementos da natureza em civilizações como a andina, a amazônica e a hindu. Tudo isso ao mesmo tempo em que nos deixamos envolver com questões como sexualidade, fidelidade, feminilidade, sororidade e o direito da mulher sobre o próprio corpo.
Ao ler este livro, deixamos que muitas vidas caibam em nós. E está aí o que faz esta obra ser ímpar: com ela podemos refletir sobre a família brasileira do entresséculo, sobre a mulher contemporânea, sobre ancestralidade feminina, sobre autoconhecimento, sobre nós, sobre a vida.