“Curtas ficções, instantâneos, narrativas mínimas, considerações sem importância, fragmentos de coisa nenhuma, esse pouco mais de nada que preenche os grandes espaços de silêncio entre os (às vezes raros) eventos fortes do curso de uma vida: o reino do pequeno, do menor, que sobrevive ao desaparecimento completo graças unicamente a uma insistente vontade de texto. (...) E a cristalização em palavras de imagens já cristalizadas na retina, na memória, nos sentidos ou na imaginação, mas sobretudo – e uma vez mais – a total ausência, aqui, de intenções maiores ao simples desejo de ver em palavra o que ainda não o é.
Uma leitura desarmada deste mundo onde somos solicitados (massacrados) por tudo e por todos e devemos dar opiniões e respostas coerentes a tudo e todos. Também é isto: um gesto para escapar desta armadilha e, paradoxalmente, outra estratégia de combate. Sim, tomar posição: forma de dizer não. (...) Em tempos de histeria da expressão, falar pelo que não se diz. Não emitir juízos, e dedicar-se ao detalhe banal com o mesmo espanto da criança diante de um gato pela primeira vez.”
Assim se expressa o próprio autor de Prosa Pequena, ao final do livro, em um texto que é todo um programa. As prosas que compõem este volume apontam mais para o silêncio do que para a eloquência, mais para a reflexão do que para o consumo rápido. Sim, um livro que não se entrega facilmente em uma primeira leitura. Não que seja difícil, não se trata disto, mas são textos que exigem do leitor o tempo de se pousar, uma velocidade diferente para entrar e para sair deles. Livro para ser lido aos poucos. Essencialmente literário, o que nos dias de hoje soa meio pejorativo, quase uma afronta. Livro que alguns diriam alienado, fora das agendas, que não discute “questões atuais”. Porque a ficção não está, aqui, a serviço de pautas, não está a serviço de nada, ela vem apenas para tentar fixar alguma coisa, aquilo que parece o mais desimportante, mas o que resta depois que tudo passa.