Em seu livro de estreia, Bruna nos desenha o tempo do quase. O quase-humano está inteiramente nu diante desse mundo caduco. Um mundo que, por sinal, também é quase. Um mundo que parece ter perdido o bonde. Onde a tecnologia chegou mais rápido e engoliu seus retardatários – esses que só valorizam o que ficou para trás. Hoje, o tempo é da pressa e do preço. Queremos tudo, não temos nada. Queremos todos, estamos sós. Conectados por relações ilusórias, frágeis. As nossas solidões se procuram. As nossas companhias nos preocupam.Senta-te ao meu lado para assistirmos o mundo destruir-se, mais do que um verso, é um convite inusitado para assistir ao nosso fim de camarote. Bruna constrói seus poemas em cima da destruição. Ela sabe que é necessário colocar abaixo o que somos para reconstruir o que desejamos ser. Precisamos desnudar nosso tempo para vê-lo e vivê-lo com a roupagem que imaginamos no futuro.Febril, a modernidade respira com a ajuda de aparelhos, de gadgets, de smartphones. Bruna parece odiá-la. Em suas palavras: hodierna modernidade. Mas não se engane, prezado leitor. Mas não se engane, prezada leitora. A poeta também nos engana. Esse aparente pessimismo não passa de uma farsa, um blefe. Os poemas estão sempre agasalhados de esperança. Se por um lado, nos vestimos de sufoco, isolamento, angústia, inércia. Por outro, temos a vontade de nos desfazer desse medo e seguir em frente, e encarar o verso. A cada página, uma peça vai ao chão. Um strip-tease reflexivo e necessário sobre o Agora.POÉTIQUASE é cheio de referência. É uma reverência ao lirismo instantâneo. Nos conduz para qualquer lugar sem rumo e, de lá, nos redireciona para o território fértil da poesia: o destino de tudo o que é quase.Bem-vinda, Bruna!– Pedro Gabriel, autor de Eu Me Chamo Antônio