Provocativo e perspicaz, Poder, Voz e Subjetividade na Literatura Infantil, de Maria Nikolajeva, discute as possibilidades de uma literatura infantil e juvenil de qualidade que seja capaz de atribuir um poder contestatório à infância. Pois a vasta maioria das obras lidas por crianças e jovens é escrita, ilustrada, selecionada, comprada, ensinada e mediada por adultos, sem que haja uma reflexão sobre o quanto essa literatura constitui-se como espaço de opressão, de imposição de perspectivas sociais, emocionais e políticas dos adultos – seus valores, desejos, medos, preconceitos, limitações, linguagens e estéticas. Nikolajeva explora alguns exemplos disso tanto em obras clássicas (como Alice no País das Maravilhas) como modernas (como Harry Potter e Pooh) e argumenta em torno da ideia de que a criança e o jovem formam um grupo sociologicamente minoritário (tal como as mulheres, os afrodescendentes, a comunidade LGBTQIA+, a população periférica, os indígenas) que sofre com o silenciamento de sua "voz e subjetividade". Ela conclui que, uma vez que sendo adultos não podemos abolir normatividade adulta – o que seria subverter nossa própria experiência –, podemos, por meio de personagens e situações que transitam entre o grotesco, o mágico, o surreal e o inesperado na literatura infantil, conscientizar os jovens leitores de que as normas e regras adultas não são absolutas. Para isso, diz ela, precisamos criar formas de esclarecer, denunciar questões normalizadas pelo predomínio de valores do mundo adulto. Poder, Voz e Subjetividade fornece ferramentas pelas quais podemos seguir nessa tarefa de maneira mais coerente e consistente do que antes.