O romancista Giorgio Manganelli faz uma radiografia da fábula. Neste Pinóquio: Um livro paralelo, ele mostra como a aventura da marionete de madeira esconde muitas outras histórias dentro de um livro para crianças. O estudo de Manganelli procura desvendar o sentido oculto das estripulias de Pinóquio e o verdadeiro significado de personagens como Gepeto, a Fada, Tragafogo e a dupla de malandros formada pela Raposa e pelo Gato.Manganelli, um dos mais inovadores escritores italianos do século XX, analisa a tirania e a benevolência de Gepeto, o papel pedagógico do Grilo-Falante, as metamorfoses da Fada e as dúvidas existenciais de Pinóquio, dividido entre a desobediência e a vontade de ser um bom menino, para poder se transformar em uma criança de carne e osso.Entre as idéias surpreendentes do autor está a de que a definição de marionete que é dada a Pinóquio corresponde a uma condição moral (de "nudez") e social (de "inocência"), ligadas à infância mas também à pobreza. Manganelli apresenta uma leitura inovadora sobre o que representam na história elementos como a noite, o fogo e as cores dos animais, e demonstra como as fugas do boneco guardam sentidos filosóficos, ligando a cidade de Enrola-Trouxas e o País dos Brinquedos à nossa realidade cotidiana.Manganelli mostra a absoluta coerência literária de cada um dos episódios do livro de Collodi. Talvez por isso, as mudanças feitas na história pela versão cinematográfica de Walt Disney pareçam tão simplistas depois da análise empreendida pelo escritor.Pinóquio: Um livro paralelo sugere que uma fábula - e, no limite, um livro qualquer - carrega consigo uma outra história, paralela, cujo significado cabe ao leitor desvendar.