Paris, quartier Saint-Germain-des-Prés, de Eros Grau, é um livro sobre Paris – mas não é sobre Paris, porque é sobre seu bairro mais famoso, o Saint-Germain. É, em todo caso, um livro de crônicas – mas não é um livro de crônicas, porque crônicas são curtas, e o livro inteiro é uma grande crônica de dezenas de páginas... Então é um ensaio amoroso sobre a cidade amada vista por um estrangeiro seduzido – mas não é um ensaio, porque tem o sabor das crônicas... É o livro de um jurista, mas que tem a leveza do flâneur em que o jurista se transforma quando no quartier. Enfim, Paris, quartier Saint-Germain-des-Prés é um livro quase tão universal quanto seu objeto, a cidade de Paris. A Paris de hoje.
Como reconhece Ignácio de Loyola Brandão, que a assina a orelha da obra, trata-se de um livro “difícil”. Mas não de ser lido, porque sua leitura é tão sedutora quanto a cidade sobre a qual escreve. Ele parece, de um lado, difícil de definir, e de outro, difícil de escrever: “Como escrever sobre Paris fugindo dos lugares comuns? Dizendo uma coisa nova? A cidade já foi devassada inteiramente”. Aqui, tudo é resolvido pela soma “do detalhe com a emoção”. Como a emoção é pessoal, o relato do autor sobre “sua” Paris é, afinal, sobre uma cidade particular, feita de detalhes e descobrimentos: não há lugares comuns, nem no texto nem na capital francesa. E como ela nunca se deixa apreender por inteiro, cada relato pessoal revela uma cidade nova por trás ou por dentro de Paris; que, aliás, sequer é uma cidade, segundo o autor, mas um conjunto de vilas, cada uma com sua identidade – e com seus restaurantes, suas livrarias, suas pontes, suas ruas, seus tipos, suas luzes... Daí os livros sobre Paris serem muitos, mas serem todos insubstituíveis. Assim como Paris.