Julien Parme é um adolescente típico que se considera um “rebelde com causa”: depois da morte prematura do pai por causa de um câncer, o rapaz tem que “digerir” o novo namorado da mãe, François, uma pessoa pela qual ele não tem afeto e respeito algum. Depois de várias atitudes inconsequentes próprias de jovens que desejam apenas a atenção e o carinho dos pais, Julien é enviado pela mãe para o interior da França, longe de qualquer confusão e, de preferência, dela. No que se segue, o rapaz – em meio às reflexões do “sério” projeto de tornar-se um escritor famoso – engata uma fuga, se aventura pelas noites de Paris, se engraça com a professora de francês e, numa espiral descendente, comete um ato do qual pode se arrepender pelo resto da vida. Em Os incríveis infortúnios de um escritor aprendiz, de Florian Zeller, Julien Parme toma os contornos de um Holden Caulfield, personagem central do clássico O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger. Zeller incorpora Parme à narrativa na forma de primeira pessoa e o leitor se vê na mente ansiosa e fantasiosa de um adolescente e como um jovem de apenas 14 anos vê as coisas e as suas justificativas para tomar certas atitudes. Amigos, amores, família e sonhos tomam a mente de um Julien atormentado pela morte do pai, pelo conflito com a mãe e pelos desejos sexuais revelados por uma coleguinha – Mathilde – e, claro, pela professorinha. A cada passagem de sua tão pouca vida, Julien imagina como parte de sua construção pessoal que irá levá-lo à condição de escritor mais que famoso. Quando é colocado no trem que vai afastá-lo da família em definitivo, o jovem reflete: “Seria a história de um herói que decide nunca mais voltar para casa e assim se vingar da crueldade da mãe. Um dia uma jornalista ia ver que aquela era a chave de toda minha obra”, divaga o garoto.