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Inteiramente passado em 13 de março de 1964, O último dia da inocência mistura situações e personagens reais a criações fictícias. Em meio às tensões do dia do comício de João Goulart na Central do Brasil, um jovem ingênuo e indiferente às conspirações políticas à sua volta se vê testemunha de um assassinato, do qual se torna o principal suspeito.
O protagonista é um órfão brasileiro - sobrevivente de outro crime - que sonha em ser jornalista e busca a grande história a reportar. Ele não desconfia que a história surgirá na forma de seu próprio enredo, em que nenhum acaso é verdadeiramente fruto do destino.
Enquanto tropas do Exército, conspiradores e manifestantes vão se juntando no centro do Rio de Janeiro, o jovem, que não se recorda de ter cometido o crime, busca desesperadamente, por diversos pontos da cidade, alguém que possa ajudar a inocentá-lo. Cada minuto conta. E a cada hora ele descobre que outros crimes secretos - em que ele e sua família estiveram envolvidos - foram cometidos ao longo dos anos.
A primorosa reconstrução do ambiente político brasileiro tem papel decisivo no desfecho da trama. Também primorosa é a recriação do Rio de Janeiro. Nessa obra-prima de recomposição de uma topografia afetiva, fruto de pesquisa meticulosa, Edney Silvestre nos presenteia com mais uma demonstração de seu talento, em um livro emocionante. Costurando uma ficção de primeiríssima grandeza, em que se descortinam personagens destinados a permanecer na memória do leitor, o autor é impiedoso no modo como manipula a memória. Com personagens fluidos, corpos confundíveis e figuras que são a chave para a amoralidade, inclusive sexual, O último dia da inocência é um romance irresistível.
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