Um estudo tragicômico do conflito entre ilusão e realidade, O poço dos santos retrata um casal de idosos cegos, Martin e Mary Doul, no condado de Wicklow, na Irlanda, cuja cegueira é temporariamente curada por um “santo” que chega ao local. A peça fez parte do repertório original do Abbey Theatre, o teatro nacional irlandês, no início do século XX, e é considerada um trabalho à frente de seu tempo. O teatro de Synge é, de certa forma, reconhecido como precursor do teatro de Samuel Beckett e Martin McDonagh.
A peça teatral O poço dos santos (The Well of the Saints) estreou no Abbey Theatre, o teatro nacional da Irlanda, em Dublin, em 4 de fevereiro de 1905, e provocou reações hostis por parte do público e da crítica. Segundo pesquisa de uma das maiores especialistas na obra de Synge, Ann Saddlemyer, existem seis versões completas do primeiro ato de O poço dos santos, seis versões do segundo e cinco do terceiro, além de inúmeros fragmentos de outras versões. A peça foi publicada pela primeira vez pelo Abbey Theatre e A. H. Bullen, em 1905, e reencenada diversas vezes na Irlanda e em alguns outros países. No Brasil, foi apresentada pela primeira vez em forma de leitura dramática no teatro da Escola Superior de Artes Célia Helena, em São Paulo, em 2 de outubro de 2023, pela Cia Ludens, com direção de Domingos Nunez.
JOHN MILLINGTON SYNGE nasceu em 16 de abril de 1871, em Rathfarnham, perto de Dublin, e morreu em 24 de março de 1909, em Dublin. Um dos pilares do chamado Renascimento Irlandês, Synge retratou em sua obra as condições severas da vida rural na Irlanda no início do século XX. Depois de estudar em Trinity College e na Royal Academy of Music em Dublin, Synge continuou seus estudos na Alemanha, Itália e França, mas abandonou os planos de se tornar músico para se dedicar à literatura. Encorajado pelo poeta W. B. Yeats a visitar as Ilhas Aran, no oeste da Irlanda, Synge fez várias viagens às remotas ilhas, onde coletou material primário para suas peças escritas em inglês, recorrendo a ritmos e sintaxe próprios do irlandês, forjando seu característico dialeto hiberno-inglês para o palco. Synge privilegiou o modo tragicômico em sua obra dramática, compondo peças seminais na formação do teatro irlandês moderno e contemporâneo.