Com Dalton Trevisan o conto brasileiro se renovou. No campo da linguagem, o autor trouxe para a ficção um idioma ágil, vivo, lépido, desentranhado dos mais diversos ambientes populares, fixando o coloquial com rara mestria. No que diz respeito à estrutura da história curta, obteve efeitos novos através da síntese narrativa, fundindo, justapondo ou contrapondo planos, de modo a, num mínimo de espaço e de tempo, abarcar maior extensão e profundidade de aspecto da vida. Dalton realiza, sempre com espantosa economia de meios, a proeza de muito dizer, pouco falando. Escritor permanentemente insatisfeito, Dalton Trevisan vive polindo e repolindo seus livros anteriores — coisa que se pode comprovar comparando as diferentes edições deles. Os novos também são submetidos ao mesmo rigor, ao mesmo tratamento perfeccionista. É um autor em busca constante da melhor forma, da expressão precisa, correta, definidora. Graças a esses cuidados, sua técnica narrativa e fatura literária são excepcionais. Técnica e fatura que aplica para revelar os dramas de uma pequena e miúda humanidade, uma humanidade cujo heroísmo está simplesmente em viver ou sobreviver aos embates da vida. Ninguém como ele para reelaborar os faits-divers e dar-lhes grandeza dramática e até trágica. O universo do contista paranaense torna-se, assim, um microcosmo perturbador, soma e suma de todo um vasto mundo onde se desenrola a infindável comédia humana.