Stephen Crane não chegou a completar 29 anos (1871-1900), mas teve uma vida extraordinária, suficiente para ser considerado um dos pais do romance moderno americano. Esta coletânea revela sua maestria também na narrativa curta, com três textos exemplares
Autor de um dos grandes clássicos da literatura dos Estados Unidos do século XIX, o romance O emblema vermelho da coragem, sobre a guerra civil americana, Crane se volta, nos contos que compõem a coletânea, à América profunda. No primeiro texto, O monstro, um homem negro que trabalha para um médico branco salva heroicamente o filho deste de um incêndio, mas o fogo o deixa desfigurado, provocando a rejeição dos habitantes de uma cidade pequena. Em sua simplicidade apenas aparente, a história pode ser lida como uma alegoria das relações raciais nos Estados Unidos, uma crônica de província ou um retrato da frivolidade moral. O hotel azul, conto antológico, vem em seguida. O enredo gira em torno de um estrangeiro que se vê numa mesa de jogo e adota um comportamento perigoso. A trama tematiza os riscos de ir contra a corrente num contexto de convenções espúrias. Finalmente, em As luvas novas de Horace, um garoto se mete numa briga, estraga suas luvas novas e teme a reação da mãe. É uma história que evoca o medo e as transgressões da infância.
Considerado um grande estilista, e incensado por autores como Joseph Conrad, Crane viveu num período de ampla diversidade literária em todo o mundo. Talvez por isso ele tenha sido classificado, por críticos e por outros autores, como representante de várias escolas: realista, naturalista, simbolista, impressionista e, para o escritor Paul Auster, autor de uma recente e alentada biografia de Crane, o primeiro dos modernistas de seu país.