O livro de Rovana é uma biografia, mas não uma biografia como acontece com a maioria dos textos desse gênero. No decorrer do texto, encontram-se momentos de intenso afeto do irmão/autor por Rovana, em harmonia com a isenção do grande jornalista, que ele é.
Mas não é só, tudo isso vazado numa linguagem elegantemente literária que torna agradável a leitura deste livro. Mas o que mais surpreende é a protagonista da história, a Rovana. O relato biográfico cobre a vida toda da personagem principal, cerca de cinquenta anos. Esta é uma história comovente de rompimento com os limites impostos pela natureza e suas circunstâncias.
Rovana nasceu surda-muda. Ninguém acreditava na criança como um ser capaz. Exceto a família. E foi junto de seus irmãos que teve uma vida tanto quanto possível normal. Mesmo sem falar e ouvindo pouco mais que zero, e com o auxílio da professora Gioconda, a menina aos onze anos já lia e escrevia antes de falar. Sua escrita, sobretudo no âmbito da sintaxe, tem uma lógica muito peculiar, com aibuições de valores próprios a algumas palavras e outras tantas construções. O significado, entretanto, é sempre acessível.
Para a composição desta biografia, o autor se valeu dos 194 cadernos deixados pela protagonista, todos eles em forma de diário, onde registrava ações e emoções, a seu modo, e muitas vezes em uma linguagem com estranhamentos poéticos.
Um livro que agrada tanto pelo plano do conteúdo quanto pelo plano da expressão.