Iluminações dos silêncios (Razões e paixões)
A Terceira parte deste livro é fascinante. Aqui estão reunidos noventa sonetos, alguns premiados. Cada página é densa, requer atenção e cuidado se não quiser deixar passar tesouros em versos. É muito fôlego, disciplina e coragem do querido poeta.
Diálogos com outros corpos humanos e não-humanos, sentimentos, emoções, paixões. A viagem pelos temas é emocionante: amor (completo, sonhado, eterno, perdido) em Roma, Portugal, Espanha, Bulgária, Minas Gerais, Recife; referências a Fernando Pessoa, Sá-Carneiro; intuição; medos; tempo; prazer; a natureza e criação (inauguração, disse o poeta) do homem. Porém a habilidade com as palavras e novos usos para raras palavras chamam a atenção. Só para lembrar de uma: “virgular-se”. A manhã, a tarde e à noite virgulam-se no ‘Soneto para manhãs delicadas, mas sem janelas’.
Ouso dizer: Virgulo-me à criatividade de Paulo Cannizzaro. E preciso respirar. Ou sangrar, ao mergulhar no “Meus Egitos e Nilos soterrados”. Ou chorar com a ausência dos sei(l)os da amada (Soneto para Depedidas).
Paulo quebra regras, ousa com quatorze versos agudos em “Soneto para os medos” e quatorze graves de “Olhares”, dá receita para fazer um pão (ou bolo?) de lágrimas, usa a palavra exata, plena, amena e forte, garimp(a)dor que é, como bom mineiro, ri e debocha de si mesmo, dos múltiplos Paulos na “hora indeclinável”. Numa batida sincopada de rock ou funk, samba ou xote, compõe versos de rima interna no “Para fantasias, amores, para Dolores e Dores”.
( TRECHO DO POSFACIO DE JOSE CARNEIRO LEÃO)