No livro "O homem bumerangue" (selo Escrituras), Téo Lorent vem nos premiar com uma prosa original, combinando a fluência natural de uma linguagem própria com uma visão profunda e bem-humorada da nossa contemporaneidade: trata-se do estranhamento poético do banal maturado no olhar do estrangeiro, sob a eloquência plural de um “contador de causos”.
Os onze contos encadeados ao longo do livro tratam de trajetórias masculinas em transição de países, relacionamentos e experiências vividas. Sob medida até para as leituras mais ligeiras, esses contos revelam-se entanto como “microrromances” ao olhar mais acurado, com personagens particularmente bem delineadas para enunciar a porção mais fabulosa do real, bem onde não se conta, e quando menos se espera.
Um piloto comercial desembarca de seu último voo no Galeão. Um jovem violoncelista chora no Central Park em Nova York. Um executivo catalão despede-se de sua esposa no aeroporto em Barcelona. Outro observa a gaiola descendo o rio Mississipi em Nova Orleans, enquanto outro atravessa uma tempestade de neve em algum lugar ermo no meio-oeste americano. O que se passa na cabeça desses homens nesses momentos em particular? Como chegaram ali e para onde vão? Ironias do destino como em uma canção de Alanis Morissette, “Irony”.
Nem tudo na cabeça dos homens se resume em cerveja, futebol e coisas práticas e banais enquanto ganham a vida. A sensibilidade masculina, queiram ou não, ainda não está bem resolvida. Do mesmo modo que muitos tabus ainda carecem ser rompidos em uma sociedade em total transformação. Acordamos depois da explosão das Torres Gêmeas em Nova York e a fumaça ainda paira no ar entre crises econômicas, turbulências sociais e uma enorme vontade de renovação. Mas, como seguir adiante zerando tudo e, ao mesmo tempo, mantendo a memória viva de antigos padrões que poderão ser úteis na próxima esquina do tempo? Abusando da leveza do humor irônico, são vários os questionamentos que esses personagens enfrentam no microcosmo de suas próprias experiências. Visto que nem tudo na vida se resume em propriedade, carro na garagem, cercas brancas e um belo jardim, se a solidão do individualismo tenta invadir e se apossar da alma de cada um. Buscam respostas em tudo o que vivenciam, seja no cheiro das coisas, no som da música, um livro na estante, um apego a um amor já acabado ou na carência desesperadora em torno do novo. Nesses contos de Téo Lorent, todos se encontram trombando em encontros.