Publicada originalmente em 2001, O clarão é obra que celebra a amizade mesmo diante das mais tristes circunstâncias. Inspirado na relação entre a autora, Betty Milan, e o renomado comunicador conhecido por suas frases marcantes, Carlito Maia, o livro ganha uma nova edição revista pela autora.
Na última noite do ano, Ana é confrotada com uma mensagem de fax angustiante: seu amigo de longa data, João, comunica que, por conta de um problema severo de saúde, estava impossibilitado de falar. Esse parceiro de vida, tão conhecido por sua eloquência e perspicácia, que sempre permaneceu próximo em seu coração, apesar de ter estado fisicamente distante nos últimos anos, agora se via silenciado por uma doença traiçoeira.
A notícia abala Ana profundamente. “Nunca mais ouvir João? Ficar sem o ‘Por que você não faz isso, Ana, se é isso que você de fato quer?’” O amigo que tanto valorizava o diálogo, e a liberdade que nele habita, encontrava-se aprisionado pelo silêncio imposto pela doença. E Ana, que tanto se inspirava nele, percebe-se também aprisionada, incapaz de encontrar sua voz diante dessa nova realidade.
Assim se inicia a emocionante história de O clarão, obra de Betty Milan que foi inspirada em sua amizade com o amigo e influente publicitário Carlito Maia. O livro nasceu de uma frase que Maia enviou a Milan, em 1997, quando adoeceu: “Venha me visitar antes que eu já não esteja.” Pelo medo de perder seu grande amigo e pelo estranhamento diante da sentença, a escritora começa a escrever o romance. Em 2001, lança a primeira edição da obra, e no ano seguinte Carlito falece em consequência das complicações de sua doença degenerativa.
Nesta edição revista do livro, Betty perpetua a mensagem que tanto reverberou em sua amizade com Carlito: “A amizade ilumina quando a paixão pelo dinheiro, pelo sucesso, cega; ela quer o contentamento do outro, respeita a sua liberdade e aceita a diferença.”
Com sua narrativa sucinta, rápida, mas também impregnada de sugestões poéticas e metáforas, O clarão é obra que valoriza a vida ao tratar da morte; e nos ensina, sobretudo, a não perder tempo e valorizar aqueles que amamos. No posfácio, o poeta, ensaísta e crítico brasileiro Claudio Willer (1940-2023) diz que, por ser “delicado, além de sutil, feito de subentendidos, O clarão vale por aquilo que é dito explicitamente e por suas entrelinhas”. É, enfim, obra que sensibiliza, mas que afaga; ensina e abraça, mesmo que com breves palavras.