Desde seu magnífico romance Santa Evita, em que o jornalista e o escritor se combinaram em uma obra de grande qualidade literária e documental, passando por O vôo da rainha, que lhe rendeu o Prêmio Alfaguara, Tomás Eloy Martínez ocupa um lugar de destaque entre os grandes escritores da América Latina. Em O cantor de tango, o protagonista é um doutorando nova-iorquino, Bruno Cadogan, que pesquisa as origens do tango segundo Jorge Luis Borges. No início de 2001, o acadêmico toma conhecimento da existência de Julio Martel, um cantor argentino à moda antiga, capaz de reviver o espírito original do gênero portenho. Como, no entanto, não há gravações dessa voz milagrosa, Cadogan decide viajar a Buenos Aires apenas para ouvi-la. O livro é um registro da busca desse cantor dos cantores, que se vai revelando muito mais difícil, perturbadora e apaixonante do que seu protagonista pode num primeiro momento suspeitar. No rastro do artista, o perplexo estrangeiro se perde em intrincados labirintos sobrepostos em planos paralelos: na arquitetura da cidade, em seu passado pontuado de tragédias, em sua densa literatura e na alma de seus habitantes. Tudo num cenário de tensão social crescente, à beira do abismo em que a Argentina se precipitou em fins daquele ano.
As peripécias do narrador-protagonista na pista do cantor vão oferecendo uma visão estranhada da Buenos Aires de hoje e servindo de vetor para uma série de narrações, fragmentos da memória da cidade, desde suas duas conflituosas fundações até os horrores da ditadura, passando por um rosário de pequenas e grandes tragédias. Nessa colagem de testemunhos e relatos, entram elementos de fontes heterogêneas - jornalísticas, literárias, cinematográficas, historiográficas, musicais, urbanísticas - amalgamados pela matéria ficcional e animados por uma galeria de personagens extremamente marcantes. Uma viagem insólita por uma Buenos Aires em convulsa mutação, uma cidade-esfinge tão bela quanto terrível, que jamais caberá nos guias de turismo.
"Com estilo impecável, repleto de achados felizes e expressivos, em tom de lúcida desolação e às vezes com humor ácido e sombrio, Tomás Eloy Martínez revela uma cidade contraditória, intensamente vital, ao mesmo tempo hostil e atraente" - La Nación