Reginaldo Prandi evoca a ambiência da metade do século XX para, em meio a conflitos familiares, intrigas religiosas e amores juvenis, tratar do avanço da tecnologia, do risco de perder as raízes e, ao mesmo tempo, da importância de mudar.
No final da década de 1950, uma cidadezinha do interior do Brasil é surpreendida por uma série de assassinatos, suicídios e mortes suspeitas. Até então, o sossegado município enfrentara apenas crimes perpetrados por ladrões de galinhas.
A solução de casos de mortes tão diversos quanto os artigos vendidos nos dois armazéns de secos e molhados da cidade vai depender das relações pessoais, das fofocas e da curiosidade sobre a vida alheia, que dão sabor e sentido ao dia a dia dos moradores.
Reginaldo Prandi evoca toda a ambiência da metade do século XX para, em meio a conflitos familiares, intrigas religiosas e amores juvenis, tratar do avanço da tecnologia, do risco que se corre de perder as raízes e, ao mesmo tempo, da importância de mudar.
“Saíram do cinema num empurra-empurra, estava uma confusão, uma gritaria. Alguma coisa prendia os cinéfilos à porta da sala de exibição. O delegado-substituto Bel e todo o seu efetivo, formado por um cabo e dois soldados, isolavam o trecho da calçada bem em frente ao Cine Santa Clara. Os dois amigos conseguiram chegar mais perto, se enfiando entre safanões e xingamentos, e viram, estarrecidos, um corpo inerte no chão coberto de sangue.
Bel espantava todo mundo, mandando para casa o povaréu que saía do cinema e os que vinham da praça, procurando manter intocada a cena do crime, ameaçada de invasão pela curiosidade popular. Era a maior novidade da cidade, desde o dia em que um cavalo desembestado entrou na igreja na hora da missa e atropelou meia dúzia de devotas que tentavam proteger a integridade física do padre.
Afastados do local, grupos se reuniam, discutiam e espalhavam a notícia.
― Mataram a Izildinha a facadas.”