L. e Miguel estão apaixonados, ou seus corpos estão em fúria, como em João Gilberto Noll, e ainda procuram nomes para o que sentem. Suas masculinidades criam afetos que percorrem os corpos por vias congestionadas de sexo, silêncios e deslocamentos, entre Brasil (São Paulo, Ceará, Paraná) e Espanha (Barcelona) – lugares Presente e também lembranças e Passado. L. conta recordações dizendo-se escrito em um não-diário, às vezes piegas, outras vezes assumindo um tipo de oposição ao exagero, mantendo sinestesias musicadas, compondo ritmos do desejo: a referência a Wong Kar-Wai está lá, inclusive. Michel de Oliveira escreve seu primeiro romance em tons de “assombro sentimental” sobre a relação entre dois homens perdidos em palavras que escapam por dentro, apegos a jorrar das faltas, tramas de reelaborações de infâncias tornadas precárias pelo preconceito (“duas crianças perdidas juntas têm menos medo”). L. e Miguel encontraram no amor e no desejo um abrigo e um precipício, irremediavelmente, e tudo isso permeado por sentimentos coloridamente eviscerados, do sexo casual iniciado em flertes anônimos na internet, invenções do amor e seus novos nomes. Michel escreve uma composição de recordações e conflitos, na qual os personagens parecem buscar uma investigação de suas subjetividades e corporalidades. Com entrelinhas melancólicas inflamadas de homem-erotismos e lacunas, os personagens no romance de estreia de Michel de Oliveira dizem sobre desejo, segredo, culpa, e algum tipo de amor que termina sempre como se estivesse começando.
Raimundo Neto