Além de ser um dos principais romancistas vivos, premiado em 2003 com o Nobel, o sul-africano J. M. Coetzee é também autor de refinados ensaios. Mecanismos internos – textos sobre literatura (2000-2005) reúne 21 textos do romancista sobre outros escritores. Neles, quem fala é o professor de literatura e crítico literário, funções que o autor octagenário exerce desde muito jovem.
Os textos que compõem a edição foram publicados entre 2000 e 2005, alguns como introduções de livros e a maioria como resenhas na New York Review of Books. Dos autores analisados, todos começaram a produzir no século XX, com exceção de Walt Whitman. E sete, como Coetzee, foram premiados com o Nobel de Literatura: William Faulkner, Samuel Beckett, Saul Bellow, Gabriel García Márquez, Nadine Gordimer, Günter Grass e V. S. Naipaul. Também tem um peso importante a vivência dos totalitarismos da primeira metade do século XX, sobretudo nos autores de língua alemã, como Robert Musil e Walter Benjamin.
Os ensaios de Coetzee não são apresentações, tampouco homenagens. O empenho demonstrado em cada texto para iluminar as obras em questão nunca é menos que rigoroso. Coetzee compara traduções e biografias, passa em revista as referências intelectuais e leituras dos autores analisados, busca paralelos em outras obras e encontra influências insuspeitas.
Extremamente contido em suas aparições e declarações públicas, Coetzee não se esquiva de dar opiniões nos ensaios deste livro, criando um impressionante painel de conquistas e frustrações da literatura contemporânea ao testar limites, como ele próprio faz em sua obra mais recente.
A este volume segue-se outro, com novos textos de Coetzee sobre outros autores, Ensaios recentes, reunindo artigos escritos entre 2006 e 2017. Nesse segundo tomo, Coetzee retrocede a autores de épocas mais remotas, como Daniel Defoe, Nathaniel Hawthorne, J. W. Goethe, Gustave Flaubert e Liev Tolstói, e retorna a outros três: Walser, Beckett e Philip Roth, entre outros.
As capas dos dois volumes, baseadas em composições tipográficas, são de autoria do Estúdio Campo. Os livros saem pelo selo Ilimitada, cujo projeto gráfico é do Bloco Gráfico. A tradução é de Sergio Flaksman e os textos de apresentação são do jornalista Márcio Ferrari. Ambos os volumes trazem índices remissivos com a relação dos autores e obras citados.