Infinito, aqui mesmo (selo Arte Paubrasil) é uma reunião de poemas, construída no decorrer da vida de um homem que, em cada verso, revela a sua verdade de participante e observador do drama humano neste tempo de transformações sucessivas e rápidas, e acúmulo de perguntas. Perguntas do viver, muitas delas impossíveis de serem respondidas com o conhecimento provindo do senso comum, ou dos aprendizados rotineiros que a cada pessoa é oferecido ou imposto pelas estruturas sociais, econômicas, culturais etc, em que se vive.Sertorio Abreu acredita que a linguagem poética, como forma de comunicação, é a que melhor pode conduzir os sentimentos e raciocínios de maneira aberta e estimulante para outros sentires e pensares. Isso porque a poesia, conduzindo à reflexão, nega-se a ser aceita como algo pronto, até mesmo porque se constitui um dizer particular do poeta. Afirma Sertorio: “um erro é pensar a poesia como criação desvinculada do ‘real existente’, ou ‘alienada’ da vida concreta das pessoas. O senso comum, que adora citações fechadas, teme a poesia”.Em Infinito, aqui mesmo o que existe é um conjunto de poemas sobre interiores existenciais; sobre retenções da memória em movimento reconstrutivo, mas também sobre a sempre surpreendente rede de alternativas que cada pessoa tece e se vê envolvida a cada momento no andar do tempo. Não se trata de coisa fácil, superficial, “digestiva”, mas sim de construções versificadas que trabalham com o imaginário, inclusive do que é, aparentemente, passado, procurando mostrar seus outros possíveis.Isso porque a poesia (como, aliás, o conjunto das artes) é uma representação do imaginário do possível sobre a realidade, penetrando-a para a revelação de funcionamentos, de detalhes. Essa ligação irá acontecer, ou não, através das percepções e significações que for merecendo, provocando. É por isso que muitos definem, ou a entendem como manifestação crítica. Na verdade, a poesia ultrapassa a crítica em si, ela não analisa: revela.