Neste abrangente livro de aguda filosofia, Amartya Sen não hesita em sugerir que a violência assassina que envolve o mundo atual decorre tanto de infelizes confusões conceituais quanto de ódios ancestrais. Lembrando que a identidade reconforta tanto quanto mata, e que como destino não passa de ilusão, o autor revê temas incontornáveis como a falsa oposição entre o Ocidente e o Antiocidente, o confinamento civilizacional e a liberdade de pensar e manifestar-se sem o temor de represálias físicas e morais.
Com seu estilo magistral, ampla erudição e senso de humor, Amartya Sen é um dos poucos intelectuais em todo o mundo em quem podemos nos apoiar para compreender nossa atual confusão existencial. (Nadine Gordimer, Prêmio Nobel de Literatura de 1991)
Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia em 1998, é professor da Universidade de Harvard, e vive e trabalha entre Cambridge, nos Estados Unidos, e Cambridge, na Inglaterra.
O escritor italiano Claudio Magris, Prêmio Príncipe de Astúrias de Literatura em 2004, vai direto ao ponto: “as fronteiras sempre cobram seus tributos em sangue”. E por trás das fronteiras de todo tipo, exacerbando-as rumo a uma violência crescente, estão as identidades em seu modo degradado, sociopatia execrável num mundo acuado pela barbárie de cada dia. É de fato em nome da identidade que coletivos políticos, religiosos, étnicos, fora e dentro do Estado, com renovado vigor, exercem hoje a arbitrariedade, fomentam o conflito, mutilam e matam.
Com uma leveza que não exclui a coragem de evitar as ideias feitas, inclusive as do politicamente correto, e falando a partir do capital cultural acumulado por sua própria origem indiana, Amartya Sen denuncia a violência da ilusão identitária e o cativeiro em que se transforma a cultura quando se dobra a essa miragem e deixa de defender a liberdade.
Pondo em xeque o reducionismo que consiste em dividir e opor as pessoas pela raça a que pertencem, ou religião, ou classe, ou partido, Amartya Sen revê nestas páginas o conflito entre as civilizações, os erros e acertos do multiculturalismo e a possibilidade de estender a democracia, que não tem passaporte, a todos os modos escolhidos pela humanidade para organizar-se. Defendendo uma ideia de identidade não solitarista e pondo pelo contrário em destaque as múltiplas identidades comuns que mais aproximam as pessoas do que as separam, dentro e fora de cada país, Estado ou coletivo, Amartya Sen, ao mesmo tempo que lembra ser ilusória e farsesca a ideia de um destino inevitável, atreve-se a falar na possibilidade de um mundo melhor num momento em que muitos ainda pregam o obscurantismo em seus vários matizes.
Economista heterodoxo reconhecido pelo Prêmio Nobel e, pelo menos até a data de saída deste livro no Brasil, reitor da Universidade de Nalanda, na Índia – recém-criada mas já a perigo exatamente por uma questão de identidade –, Amartya Sen é um exemplo da força do pensamento claro, aberto e humanista.
Teixeira coelho