O que você faria se pudesse escolher o sexo do seu filho? Impedir que ele tenha uma doença grave selecionando seus genes – mesmo que seja depois de adulto? O que os avanços da engenharia genética nos reserva para o futuro? Até onde podemos – ou queremos ir – com a escolha de embriões, célulastronco, testes de DNA, clonagem? São questões modernas que mais cedo ou mais tarde baterão à nossa porta, e que a bióloga e geneticista brasileira Mayana Zatz procura levantar nesse livro original e humano – "GenÉtica: escolhas que nossos avós não faziam" (assim mesmo, com “e” maiúsculo, para chamar a atenção para a outra face da evolução da ciência).
Mayana, que é uma pesquisadora da USP conhecida internacionalmente, e participou ativamente da aprovação pelo Congresso Nacional das pesquisas com célulastronco embrionárias, traz um pouco de sua experiência para o cotidiano das pessoas. As histórias por ela relatadas poderiam ocorrer com qualquer um de nós – porém, no estágio atual do nosso conhecimento, nossas respostas nem sempre serão as mesmas.
“Este livro é uma bomba em todas as certezas acomodadas, ele coloca problemas, página a página, frente aos quais nossa bulas de bem viver entram em parafuso.A Genética está para o século XXI assim como a Física esteve para o século XX. Os avanços da Genética deixam para trás uma forma de viver e geram problemas de ordem ética que não podem, curiosamente, ser resolvidos geneticamente.” É o que diz o médico e psiquiatra Jorge Forbe no prefácio.
Como observa a especialista em Biodireito, Adriana Diaféria, que também comenta a publicação: “O livro nos mostra claramente diversas questões não só da relação do ser humano consigo mesmo, mas principalmente na ruptura de dogmas como o caso da reprodução a partir de células somáticas e a manipulação, congelamento e o descarte de embriões, dentre tantos outros , retomando a necessidade de se revitalizar as mais tradicionais questões filosóficas. Questões como: O que é a vida? O que somos? O que desejamos ser? estão presentes nessa discussão. “
A importância de "GenÉtica: escolhas que nossos avós não faziam" é diretamente proporcional à relevância e às implicações dos assuntos que o livro aborda, e ao impacto potencial de suas consequências para nossas vidas, tanto em termos práticos quanto de visão de mundo. Da lista de seus capítulos emerge um quadro sinótico, senão de um admirável mundo novo, de uma parte tão admirável quanto nova de nosso próprio mundo: paternidade ou o direito de não saber; confidencialidade; diagnóstico prénatal; gêmeos, trigêmeos e mais; menino, menina e o que você faria se pudesse escolher; embriões salvadores; projeto Genoma; loira ou morena, alta ou baixa, atleta ou cientista; pesquisas com célulastronco; bancos de cordão umbilical; testes de DNA na farmácia; clonagem e o que nos reserva o futuro. E já nos envolve o presente, numa discussão que implica, acima de tudo, em escolhas. Escolhas culturais, escolhas políticas, escolhas jurídicas, escolhas familiares, escolhas pessoais. Em todo caso, escolhas obrigatórias. De um tipo que nossos avós não podiam fazer, e que nós não poderemos evitar. Melhor começar a se informar.
Com capítulos curtos em linguagem clara e até mesmo divertida (pois as questões já são complexas o suficiente), o livro oferece ainda duas preciosas ferramentas adicionais: um verdadeiro minidicionário com os principais termos e expressões envolvidos (“Para entender melhor”) e uma lista de sites úteis (além de bibliografia especializada). E conta com uma apresentação de Dráuzio Varela, que não esconde seu entusiasmo com a leitura: "A noite em que comecei a ler o livro, quase perdi a hora de levantar.As histórias que ele conta são tão instigantes que fica difícil parar de pensar nelas."