Uma estória pensada nos termos de um Mano Brown e contada no espírito de Guimarães Rosa. Isso é Gambé.
Houve um tempo em que a tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, a ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), atendia pelo nome de “Batalhão de Caçadores Tobias de Aguiar”. Não eram animais o que caçavam.
Gambé integra essa corporação, é nosso homem na estrada. Seu destacamento aterrorizava os sertões de São Paulo na virada para o século XX, tempo vivo do pós-abolição e de invenção da República. Ordem e progresso eram o lema. Modernidade. A função na polícia nesse arranjo era simples: manter o povo manso e longe de rebeldias.
Homens armados e em uniforme, inflados em seus egos — e testículos — pela miragem de serem detentores do monopólio legítimo da violência. O risco de liberação de sadismos é enorme. É que trazem consigo suas dores e desejos, suas frustrações e inseguranças, seus machos temores. Tudo com a mão no coldre.
Gambé não nasceu pra isso. Como haver-se então com essa vida? Encontrar refrigério ou redenção? Sim, ele é polícia-caçador. Mas aprecia reconhecer suas cisões, os vários eus que carrega em si. E mesmo sabendo que não é inteiro, almeja ser íntegro. É essa sua saga e seu desafio — que é também o de cada um de nós.
“Cartografia de um Brasil áspero, do qual outros Brasis não têm senão pálida notícia de tempos em tempos. Um sertão aberto como ferida pelo empenho de bandeirantes e outros mateiros, de benzedeiras, indígenas, negros, gente da roça e dos polícias. Gambé, o protagonista, traz no corpo e na memória a exata medida da tragédia desse lugar, onde não há bondade que subsista. Um grande romance por um dos autores que mais vêm me impressionando nos últimos tempos.” — Micheliny Verunschk
“No mundo literário, há quem escreve bonito, há quem escreve certo e, em número bem reduzido, quem escreve de verdade. Depois de iniciada a leitura deste romance do talentoso Fred Di Giacomo, é impossível largar. Já testemunhei muita coisa boa na literatura brasileira contemporânea; acompanho de perto. E garanto: este livro é escrita como poucas vezes se encontra, é um feito, tem potência, é genuíno e vem para ficar.” — Paulo Scott