A série Figuras, do teórico literário Gérard Genette, tornou-se referencial desde o início de sua publicação na França, em 1966. Junto a autores como Roland Barthes e Tzvetan Todorov, Genette foi responsável por ajudar a moldar uma ciência da narrativa e uma crítica literária nas bases do estruturalismo. Em sua abordagem, Genette investiga as maneiras como as diferentes partes do texto literário interagem, identificando e analisando-as. Desta forma, Genette busca os elementos que diferenciam um texto literário de um não-literário, ilumina os métodos pelos quais um texto literário causa seus efeitos e volta suas atenções também para a dimensão performativa da “instância narrativa” e do ato de narrar. Os estudos que compõem o terceiro volume da série se articulam em uma sequência rigorosa: Crítica e poética, Poética e história, A retórica restrita (ou metáfora e metonímia), Metonímia em Proust (ou o nascimento da narrativa), e, por fim, Discurso da narrativa (por uma tecnologia do discurso narrativo), que é um ensaio de método “aplicado” a Em busca do tempo perdido. Discurso cuja dualidade de abordagem pretende ser exemplar: “A especificidade proustiana é irredutível, ela não é indecomponível. Como toda obra, como todo organismo, a Busca é feita de elementos universais que ela reúne em uma totalidade singular. Analisá-la é, portanto, ir não do geral ao particular, mas do particular ao geral. Tal paradoxo é o de toda poética, sem dúvida também o de toda atividade do conhecimento, sempre dilacerada entre esses dois lugares comuns incontornáveis, que têm que os objetos só podem ser singulares, ao passo que a ciência diz respeito tão somente ao geral; sempre, no entanto, reconfortada e como que magnetizada por esta outra verdade um pouco menos corrente, a de que o geral está no âmago do singular, e que, então — contrariamente ao preconceito comum —, o compreensível está no âmago do mistério.”