Cada vez mais, o espaço tem se tornado categoria fundamental para a compreensão do mundo e dos processos contemporâneos de formação das identidades. Não é diferente na configuração do campo literário e em sua análise. Nas narrativas brasileiras, onde podem ser percebidos deslocamentos, disputas e paziguamentos de identidades tradicionalmente colocadas em seus “devidos lugares” e que, agora, não mais se acomodam, como é o caso das mulheres, a atenção ao espaço é crucial. “Mulheres” entendidas, é claro, como um grupo heterogêneo e complexo, formado por identidades múltiplas e contraditórias, que não se esgotam no sexo biológico ou no gênero, mas que, em grande medida, partilham pressões e expectativas impostas por uma sociedade que continua marcada pela dominação masculina. Assim, todos os artigos que compõem este volume tratam de escritoras que problematizam a questão do espaço e do gênero. Não por coincidência, o livro reúne trabalhos de pesquisadoras envolvidas com as discussões sobre as identidades de gênero, mas com uma preocupação transversal, levando em conta sua intersecção com a classe social, a etnia, a nacionalidade, a orientação sexual, entre outras. E todas enfatizam a importância do local de fala. Afinal, saber quem constrói representações alternativas às visões dominantes e estereotipadas é questão central, tanto na esfera da produção literária quanto de sua crítica.