A chave para o grande sucesso de Eles não usam black-tie está na emoção que provoca no espectador e no leitor. Um marco na dramaturgia brasileira.
Escrito em 1955, por Gianfrancesco Guarnieri, e encenado pela primeira vez pelo Teatro de Arena em 1958, Eles não usam black-tie significa até hoje, para quem lê ou assiste, a possibilidade de riso, dor, alegria, tristeza e reflexão. Considerada a revolução definitiva na dramaturgia brasileira, por introduzir personagens da classe social proletária e pobre como protagonistas, a peça alcançou grande sucesso de público e esteve em cartaz por mais de um ano em São Paulo.
A história se passa em uma favela carioca nos anos 1950, e o tema central é a greve em uma empresa. Permeando as articulações grevistas por melhores condições salariais, estão inseridos conflitos e inquietações universais, reflexões sobre a frágil condição humana. Ao mesmo tempo, o enredo apresenta o embate entre pai e filho com posições ideológicas e morais opostas.
As múltiplas camadas interpretativas contidas em Eles não usam black-tie possibilitam ao texto a capacidade de ser lido, relido e atualizado conforme o aparato histórico-cultural de gerações de leitores e leitoras. Na história, os jovens operários Tião e Maria decidem se casar após descobrir que terão um bebê. Então, tem início um movimento grevista, e os trabalhadores acabam se separando entre os dispostos a aderir à greve e os que apostam em saídas individuais. A tensão começa quando Tião, preocupado com o casamento e com medo de perder o emprego, fura a greve, entrando em conflito com o pai, Otávio, um operário politizado.
Ao mesmo tempo que trata de inquietações humanas universais, Eles não usam black-tie traz temas importantes, como as difíceis condições de vida dos trabalhadores e o abismo social entre dominantes e dominados. A peça parte, sem dúvida, de uma visão de mundo romântica. Pressupõe uma série de valores básicos, imutáveis, através dos quais os problemas surgem, fazendo estourar conflitos em que os homens se debatem.