Um dos maiores estudiosos do marxismo no Brasil, José Paulo Netto retoma em Da Erótica: muito além do obsceno, seu talento igualmente reconhecido de crítico literário. Na obra, além de selecionar e organizar o material, apresenta ao leitor, em um alentado ensaio, o universo da vida e da arte de Manuel Maria Barbosa du Bocage, autor português do século XVIII. Sua seleção e comentários destacam o aspecto libertino do controvertido poeta, sem deixar de ressaltar sua qualidade literária, cada vez mais reconhecida, que lhe garante lugar seguro entre os clássicos da literatura portuguesa.
A apresentação consiste assim em um ensaio de fôlego que estabelece uma linha histórica da literatura portuguesa da época, situando nela o poeta, sua vida e sua obra. E de quebra exibe, nas muitas notas de rodapé, uma profusão de informações por si só igualmente interessantes, compondo um variado e valioso painel. Complementam a edição uma cronologia relativa ao poeta português, referências bibliográficas e um útil índice onomástico.
“A compilação que José Paulo Netto organizou oferece os textos quiçá mais relevantes desse caminho, incluindo obras maiores da poética bocagiana, também alguns dos seus atrevimentos pícaros, discutindo nuns casos a autoria, noutros garantindo a origem, sempre comentando e ilustrando aqueles versos com notas detalhadas, sem as quais nos perderíamos no labirinto de alusões e diversões do poeta”, escreve Francisco Louçã no prefácio da obra.
Já Netto afirma em sua apresentação: “Penso que Bocage deve ser abordado, explicado e compreendido como um libertino [...] – e notadamente sua erótica (mas não só ela), na sua essencialidade, como amostra privilegiada e mais expressiva da concepção libertina possível no Portugal da última década do século XVIII. Resumindo, tenho a erótica bocagiana como exemplar privilegiado e ímpar da literatura libertina portuguesa do seu tempo”.
Fruto de rigorosa pesquisa documental, Da erótica é uma seleção admirável dos textos de Bocage, acompanhados de um texto de apoio que, ao mesmo tempo que o desvenda para o leitor, salienta sua inegável condição de autor clássico.