Corpo do Tempo: Cicatrizes enseja o segundo volume da Trilogia dos sinais, experiência única na contística brasileira, iniciada por Carrascoza com o livro Utensílios-para-a-dor, finalista do prêmio Jabuti.
Se no primeiro tomo, o sinal ortográfico enfatizado era o hífen, que, uma vez unindo as palavras no espaço nuclear das histórias, criava efeitos de sentido inéditos nas tramas, agora nestes contos-cicatrizes os dois pontos ganham protagonismo: explorados de maneiras distintas, alteram em grau e substância o caminho dos enredos, o encontro entre os personagens e o desfecho dos relatos, às vezes em forma de cenas cotidianas, às vezes assumindo desenhos de um ideário afetivo, com marcas e divisas profundas.
Os temas e o estilo que consagraram o autor se aprofundam aqui e apresentam outras nuanças, capazes de criar, igualmente, para o nosso encanto, novas interpretações e surpresas literárias. Temos, pois, uma correnteza de narrativas curtas, alargadas por dois pontos, suas margens: rio. E todas, no conjunto, deságuam numa grande e desconcertante obra, de bordas indefinidas: mar.