Casa dos Poetas, de Leonardo Antunes, escancara seu dna grego logo de início. Temos Dioniso, também conhecido como Baco, que entre outras atribuições, é o deus do teatro desde quando, na Atenas clássica, Ésquilo, Sófocles e Eurípides passeavam pelos palcos suas tragédias. Temos também a referência explícita a Aristófanes e àquela que é, talvez, a sua comédia mais inventiva: Rãs. E, não menos importante, o povo brasileiro, convidado para assistir o espetáculo.
Do que trata o espetáculo? O título dá a pista. Casa dos Poetas remete à alcunha do reality show de maior audiência na televisão brasileira, o Big Brother ou “A casa mais famosa do Brasil”. Como sabem até mesmo quem não acompanha realities ou não assiste televisão, mas vai à padaria, anda de taxi ou está no grupo da família no whats, a ideia do espetáculo é isolar em uma casa um grupo heterogêneo de “descolados” que, filmados o tempo todo, estarão à mercê dos espectadores, que escolhem os eliminados até que se aponte o vencedor. Ora, Dioniso é, a contragosto, o mestre de cerimônias e árbitro dessa reality original (ao que eu saiba ainda não foi feito um com esse mote) entre poetas. A peça se passa em tempos pandêmicos e, em respeito aos protocolos, Dioniso usa máscara e a “casa” foi transportada para o computador, cada poeta em seu quadrado, mas, graças à tecnologia 3D, capaz de contracenar com o deus.