Mãe Beata reúne em livro os seus “contos de senzala”, histórias que ela ouviu um dia, não se sabe onde, transcorridas em um tempo que não se pode precisar quando... Parte do legado cultural africano em terras brasileiras, os seus contos constituem um conjunto heterogêneo e harmonioso de histórias criadas, recolhidas ou reinventadas por ela. Elas soam como se narradas por uma preta-velha à beira de uma fogueira, numa clara noite de lua cheia, porque reavivam a memória das culturas dos antepassados, a exemplo dos griots, contadores de histórias da África que são os museus vivos de suas comunidades. Como eles, Mãe Beata vem, nos seus momentos de lazer e descontração, contando suas histórias para crianças e adultos, num autêntico processo de transmissão oral da cultura afro-brasileira.
Os contos deste livro são parte intrínseca da tradição oral afro-brasileira, ainda tão pouco documentada como literatura escrita, apesar de tão presente na imaginação de tanta gente. A autora escreve com a simplicidade de quem conta histórias vividas e, com a cumplicidade de falar para um ouvinte entendedor do sentido mais profundo de suas palavras, faz o leitor sentir-se, vezes, na posição do coparticipante da narrativa.
Zeca Ligiéro
Doutor em Estudo da Performance
New York University