Em Cantochão (selo Escrituras) Helena Armond usa da possibilidade de abrir-se inteira, revelar tudo o que dela se pretenda saber, e surpreender, mais e mais, com o novo que não tivera antes a chance de contar. Seu texto seria ambiguamente confessional, sem sê-lo. É uma intuitiva. Seu conhecimento é apanhado diretamente dos fatos, que digere, cavalar e emocionadamente. Exagera tudo o que absorve. Vive tudo o que, soprado em seu ouvido, alcança suas entranhas. E quando se põe em texto, lança longe suas lavas de vulcão em erupção plena.A coloratura empregada pela poeta sobrepõe-se ao sentido, à forma, tal a sedução sonora de seus dísticos, de suas redondilhas menores e maiores, de sua narrativa encantatória e livre que toma a melodia como mote saindo do Cantochão, passando pelo Desencanto, transitando pelo Canto a Cântaros, para descansar, finalmente, no Decantar.“Trata-se de aleluia poética que faz confluir na mesma canção o ecumenismo, revelando uma poeta que tem na poesia a resistência aos interditos do mundo contemporâneo.
Duas vertentes narrativas: a primeira, de extração existencial. O segundo veio de análise é o do choro tradicional da Igreja Católica, o Cantochão, ou Canto Gregoriano, forma musical homofônica sobre texto litúrgico latino de ritmo composto com ênfase na acentuação e no fraseado. Fixado como preceito por São Gregório, foi modelo mântrico cristãos nos terríveis séculos IX e X. Essas duas vertentes podem ser buscadas em Cantochão.”
Jorge Anthonio e Silva, crítico e pesquisador