As virtudes narrativas de Ford, autor já angariado com o Prêmio Pulitzer, despontam desde a primeira linha: em ritmo vertiginoso, somos rapidamente familiarizados com o drama dos Parsons: "Para começar, vou contar o assalto que meus pais cometeram. Em seguida, os assassinatos que aconteceram mais tarde. O assalto é a parte mais importante, já que serviu para mudar o rumo da minha vida e o da minha irmã. Nada faria sentido, se eu não o contasse desde o início." Ford estrutura a história, ambientada em 1960, em três partes, as duas primeiras mais longas, e a terceira, bem sintética, funcionando como um epílogo. Na primeira, o personagem-narrador Dell Parsons apresenta o cenário familiar nos momentos que antecederam o grande crime que os pais viriam a cometer. Na segunda parte do livro, vemos Dell na situação de não querer ficar sob a custódia do Estado. Por isso, ele acaba aceitando a ajuda de uma amiga da família, a senhorita Remlinger, cujo irmão, Arthur, mora no Canadá. Na última parte, vemos o reencontro dos gêmeos depois de muitos anos sem se verem: Dell Parsons ainda vivendo em terras canadenses, tendo se tornado um dedicado professor; e a irmã Berner em seus últimos dias de vida, debilitada por um linfoma.