Santiago apresenta, em Caderno de Desdenho, o melhor de sua produção dos últimos 30 anos, com desenhos inéditos e muitos publicados em revistas e jornais. Dentre 100 premiações em salões nacionais e internacionais, 16 cartuns vencedores selecionados constam desta obra comemorativa. Desdenhando a pompa e a circunstância, com irreverência nata, Santiago é um artista conectado às questões sociais e sempre alerta contra as injustiças e as artimanhas de intimidação por parte dos poderosos.
Afinal, se o rei está nu, alguém precisa registrar com qualidade e excelência.
Frepácio
do Bonifácio
Humor é desdenho,
quer que eu desenhe???
Eu desdenho com muito empenho:
da hipocrisia e sua miopia,
do cinismo sem abismo,
das convenções da sociedade com maldade,
do preconceito sem respeito
e do ódio de qualquer jeito.
Da concentração de riqueza e sua torpeza,
das ditaduras, disfarçadas ou puras,
do pensamento fascista
e seus genéricos histéricos,
das babaquices em geral (e as do general!).
Do racismo, primo irmão do banditismo,
da homofobia e seu cão guia,
que é o machismo assassino,
seu amado concubino.
Do adepto leonino da terra plana – o cretino –
e das burrices consagradas, aceitas e empedradas.
Da direita sempre estreita, com sua péssima receita,
que só com os ricos deita, nos palácios, com suspeita.
Das teocracias de más crias, que só vingam
na bacia da ignorância vazia, tudo que a má fé ansia.
Do pieguismo sem lirismo, com sua baba melosa
que gruda tal qual ventosa, como lente cor de rosa.
Do consumo suicida sufocado em tanta tralha
que a tudo imundicia, emporcalha, caga na mesa e na toalha,
que vai tomando o jeito suspeito de um pano de mortalha.
Enfim – o humor é vida, de alegria bem prenha,
e a essa não se desdenha,
nem sequer se baixa a lenha,
como a vaca que se ordenha!!!
Santiago