Blanche White trabalhava duro para manter a casa e os dois filhos. Faxineira sem contratação fixa, suportava o tratamento condescendente das madames brancas e ricas que pareciam sequer notar sua presença. Como uma mulher negra e gorda de quarenta anos, acostumou-se a ter uma espécie indesejada de invisibilidade: em suas próprias palavras, sempre dotadas de humor afiado e sarcasmo, era preciso um contato prolongado até que “fosse reconhecida como membro legítimo da raça humana”. Mas o que ninguém poderia esperar, nem mesmo a própria Blanche, é que ela se tornaria uma das detetives mais perspicazes da literatura policial moderna. Após levar um calote de seus patrões e ser detida por emissão de cheques sem fundo, ela decide fugir para a aparentemente sossegada Carolina do Norte. As aparências, no entanto, não poderiam ser mais enganosas. Contratada por uma família rica para cuidar da limpeza de sua casa de verão, Blanche logo se vê envolvida em uma ardilosa trama de assassinato e acaba se tornando a principal suspeita do crime. Para descobrir o real assassino e salvar sua pele, ela precisará lançar mão de toda sua astúcia e jogo de cintura.
Blanche em Apuros celebra a chegada da premiada Barbara Neely na marca DarkLove. Em 2020, Neely recebeu a honraria máxima do Mystery Writers of America. Nos anos anteriores, o prêmio foi concedido a autores como Daphne du Maurier, Agatha Christie e Stephen King. A escritora era ativista, deu aulas para detentos e combateu a violência contra as mulheres. E, através de suas obras, questionou estereótipos e confrontou a discriminação. Ela faleceu em março de 2020, aos 78 anos.
Em Blanche em Apuros, Neely utiliza os elementos habitualmente presentes nas tradicionais histórias de detetive para construir uma trama divertida, sarcástica e original que, com muita inteligência e profundidade, parece combinar a atmosfera misteriosa dos romances de Agatha Christie com a nostalgia de um bom filme da Sessão da Tarde. O resultado é um livro que ultrapassa os limites dos enredos policiais e oferece, sempre com muita ironia, um panorama da vivência de uma mulher negra em um mundo marcado pela invisibilidade. Faxineira e detetive acidental, ética e sagaz, Blanche White sempre encontra os culpados.
Para um prefácio mais do que especial, a DarkSide Books convidou Carla Portilho, doutora em Literatura Comparada e professora do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense (UFF), especializada em narrativas criminais e detetivescas. “Barbara Neely convida o leitor a reflexões importantes acerca da sociedade desigual em que vivemos, sem perder de vista, entretanto, o papel fundamental da literatura de entretenimento: divertir o público com histórias envolventes”, escreve ela. Uma autora assim só podia dar origem a uma heroína como Blanche — dona de um coração generoso, uma mente afiada e uma intuição certeira —, que não hesita ao criticar com acidez as injustiças e absurdos que vivencia.