Best-seller repleto de sexo, drogas, rock ‘n’ roll e ultraviolência que construiu a reputação de Ryū Murakami em sua estreia chega para provocar os leitores
Best-seller lisérgico que transborda lirismo de poros adolescentes. Vultos lânguidos e aglomerados tentam afirmar sua existência diante do tempo fugaz mergulhados no universo do sexo, drogas e muito rock ‘n’ roll. Poesia e a ultraviolência japonesa emolduram as descobertas e os sentimentos sem limite. Uma obra inaugural repleta de verdade que fez o nome do ainda jovem Ryū Murakami se tornar uma das mais potentes e importantes vozes da literatura moderna japonesa.
Ryū, o alter ego e jovem protagonista de 19 anos, reside em um apartamento próximo a uma base militar americana no município de Fussa, na metrópole de Tóquio. Nesse local, ele compartilha com outros homens e mulheres um estilo de vida indulgente e instável, às margens da realidade.
Enquanto tudo ao seu redor parece estar mergulhado em caos e alucinação, Ryū mantém a postura de observador passivo. Ao mesmo tempo em que acompanha cenas de agressão com indiferença e imparcialidade, ele é capaz de contemplar com atenção os delicados movimentos de pequenos insetos, aguçando sua sensibilidade para perceber cada detalhe e sutileza das coisas. Sua atitude, buscando captar tudo ao seu redor, assemelha-se à de um bebê, de acordo com sua companheira Lilly. Vivendo em estado de torpor constante, Ryū submerge gradualmente em suas alucinações, dando vida a seus monstros e desejos. A mente do personagem funde o real, o irreal e o surreal, transformando as palavras em algo corpóreo, de beleza ímpar e libertação suja. Ao subverter o tempo ele passa a existir em todos os planos de sua consciência.
Azul Quase Transparente é o romance de estreia e obra representativa de Ryū Murakami, autor de Audição, publicado pela DarkSide® Books em 2022. Ele começou a escrevê-lo quando tinha 20 anos de idade e concluiu em 1976, aos 24 anos, enquanto era estudante na Universidade de Arte de Musashino. O polêmico e escandaloso enredo tem suas raízes nas experiências vividas pelo autor em uma casa militar americana em Fussa, e desde início o trabalho causou um impacto surpreendente no cenário literário.
Narrada pelo protagonista Ryū, a história apresenta fragmentos do cotidiano desses jovens desiludidos e alienados da sociedade japonesa, tudo retratado através de uma escrita uniforme e objetiva. Em vários momentos, o texto narrativo e os diálogos se sobrepõem, refletindo o estado conturbado e a dinâmica dos seus atos alucinantes e desmedidos. Além da alta dosagem de lisergia e libido, a música também é fundamental na vida dos protagonistas e, ao lado do rock ‘n’roll de bandas como The Doors e Rolling Stones, outro nome homenageado na trama é o Luiz Bonfá, diferentemente do que aconteceu com o artista pop Gotye, que usou sem autorização trecho de música do brasileiro e foi obrigado a dividir os direitos autorais com ele.
Azul Quase Transparente conquistou o 19º Prêmio Gunzō e o 75º Prêmio Akutagawa, concedidos a escritores iniciantes. Durante a seleção deste último prêmio, as descrições explícitas de sexualidade e violência contrastando com a poéticas e o conceito deste romance teriam gerado um debate acalorado entre o corpo de jurados, dividindo opiniões.
A obra recebeu aclamação tanto no Japão quanto no mundo, com quase 4 milhões de cópias vendidas, tornando-se o trabalho de maior tiragem entre os ganhadores do Prêmio Akutagawa. Em 1978, o livro foi adaptado para o cinema, com direção do próprio autor. Segundo Murakami, todas as temáticas e questões abordadas em suas produções literárias posteriores estão inseridas em Azul Quase Transparente, o que fazem desta obra seminal um excelente ponto de partida para desbravar seu universo transgressor e inquietante.