"Flowerville é um megacondomínio de classe média alta, limpo, caro, seguro e artificial". É neste cenário esquisito, sinistro, situado num bairro "pós-urbano" de um futuro próximo que parece já ter chegado, que se passa As Sementes de Flowerville, estreia em romance do jornalista e colunista literário Sérgio Rodrigues. Com a mesma ironia e humor negro usados nos contos reunidos em O Homem que Matou o Escritor - seu primeiro livro lançado em 2000 pela Objetiva com grande sucesso de crítica -, Sérgio cria neste livro uma ficção satírica, quase científica. Personagens sem caráter, imorais ou amorais protagonizam esta história que tem como pano de fundo uma ácida crítica ao modo de vida das sociedades contemporâneas. "Flowerville é bem parecido com esses condomínios que têm proliferado nas grandes cidades brasileiras à medida que a vida urbana vai indo pro brejo. Uma caricatura da Barra da Tijuca, no Rio, de Alphaville, em São Paulo, de milhares de lugares parecidos em todo o país", localiza o autor. Misturando elementos como grotescas fantasias sexuais e experiências científicas de risco nos porões esquecidos da ditadura militar, Sérgio conduz o leitor por um universo repugnante e assustador, porém familiar. "Não quis fazer um livro de ficção científica, muito menos prever o futuro, mas levar o leitor a pensar que aquele futuro esquisito talvez já seja o presente, o nosso presente, ou pelo menos um dos presentes possíveis", diz. O título do livro, explica o autor, promete um olhar sobre a origem de Flowerville, embora a palavra "sementes" tenha também outras funções dentro deste enredo em que os homens são maus e as mulheres podem ser ainda piores. Todos personagens de um mundo em que para se tornar um pessimista, resume Sérgio, basta estar lúcido.