A vida, em seus infinitos detalhes e possibilidades, também pode ser literatura. Isso, Antônio Bivar soube desde cedo, como observador da natureza humana. Mais tarde, enquanto vivia de perto a gênese da contracultura, percebeu que toda vida, por si só, já é o suficiente para produzir um ou mais livros; contudo, mais do que isso, são as palavras escolhidas e escritas que podem traduzir a beleza e dar forma a uma vibrante saga pessoal.
Em ordem cronológica, Aos quatro ventos é o quarto volume de sua saga romanceada e bem contada, que abrange o período de 1973 a 1982. Uma década de importantes transformações culturais, comportamentais e políticas. Assim como nos livros precedentes, aqui também o leitor se sentirá sob os encantamentos de um elegante narrador que nos carrega à sua intimidade, por meio das experiências em trabalhos nas mais diversas áreas culturais, num enredo delicioso, em um tempo-espaço ao lado de nomes famosos da cena artística e intelectual brasileira, assim como pessoas e personagens fascinantes com as quais conviveu – muitas das quais já deixaram este mundo, mas que aqui aparecem mais vivos do que nunca, em situações por vezes inusitadas, em um desfile humano absolutamente verdadeiro, que na linguagem fluída e ritmada do autor, nos enche de empatia e compaixão.
É importante dizer que quem não leu os outros volumes da saga não se sentirá perdido se começar por este. A ordem não altera o conjunto. Todos têm começo, meio e fim. Os anos de leitura e escolas literárias aprimoraram um estilo original, rico em humor, irreverência e sentimentos profundos.
“Antonio Bivar é o sopro mais vivificante da literatura camp já surgido no Brasil. Seu talento é elétrico, psicodélico, rápido, multicor, agilíssimo e de graça irresistível”, como escreveu há anos um de nossos maiores críticos literários: Leo Gilson Ribeiro. E tudo o que Leo Gilson escreveu continua presente em Aos quatro ventos, acrescido da constante reinvenção de seu autor e do aprimoramento legado pelo passar dos anos. Não é exagero dizer que a prosa poética de Antonio Bivar aqui se exibe em sua plenitude.