Escrito numa linguagem musical, cintilante e inventiva, A Trindade Bantu é o segundo romance do escritor camaronês Max Lobe, há anos residente na Suíça. A obra apresenta aos leitores brasileiros a voz pungente de um escritor que expõe com ironia, humor e ternura as contradições e falsas ilusões de uma sociedade multicultural como é a das cidades da Helvécia, um país no coração da Europa, palco da narrativa desse romance fulgurante.
O protagonista, Mwána, um jovem africano que vive em Genebra, narra sua odisseia à procura de um emprego, ao passo que vive dividido entre a cultura bantu de origem e o amor por Rüedi, o companheiro ruivo suíço-alemão. Ambos partilham um cotidiano marcado por dificuldades econômicas e pelo fantasma da fome, porém, sempre atravessado por um espírito vivo e confiante.
Nessa narrativa, em que as línguas e os mundos se sobrepõem constantemente, o leitor é levado ao encontro de personagens carismáticas como a Senhora Bauer, uma militante progressista que trabalha numa ONG em defesa dos direitos dos estrangeiros; a irmã Kosambela, extremadamente católica e, ainda, a mãe Monga Míngá, internada numa clínica suíça para se tratar de uma doença de brancos, e que cobra de Zambi uma explicação sobre essa travessia.
A riqueza da oralidade da cultura bantu é protagonista também desse romance que é um verdadeiro canto à vida, desenhando a personalidade instigante do protagonista, Mwána, um entre os muitos habitantes que tentam sobreviver com dignidade e certo humor numa Helvécia atravessada por ventos de intolerância e xenofobia.