Em A sentinela, publicado originalmente em 1994, Lya mais uma vez usa uma casa como cenário; uma casa-labirinto, na qual uma mulher procura a saída, mas também tenta se decifrar ao longo do caminho e acaba se encontrando.“É um livro esperançoso: alguém renasce em si e de si mesmo e, ainda que guarde um último mistério indecifrável na gruta de seu pantanoso jardim (o interno e o externo), lança-se na vida e recria o mundo”, explica a autora. Sempre elaborando sua visão da existência humana como um drama, uma escalada, uma sucessão de conquistas e fracassos, Lya nos apresenta a personagem principal deste romance, Nora, rejeitada pela mãe, vivendo sua infância entre poucos momentos de afeto do pai e pequenas maldades da irmã, Lilith, a queridinha da casa. Ao desamor e abandono, que deixariam uma cicatriz profunda em sua alma, somam-se duas tragédias: o suicídio da irmã e a violenta morte do pai. A vida de Nora é uma sucessão de esperas e buscas: de que algum dia sua mãe começaria a amá-la; de preservar uma paixão que escorre entre seus dedos; de ter o apoio incondicional da meia-irmã; de fugir do casamento sem amor que lhe daria o seu bem mais precioso: o filho Henrique. Este parece um doce menino, mas aos poucos revela que é sufocado sob os cuidados e paranóia da mãe. Emaranhada nesta rede, Nora balança entre angústias e vazio. Até que decide tomar nas mãos as rédeas de sua vida e ser a senhora das suas escolhas. Nota-se uma virada nesse romance de Lya: os personagens de A sentinela não estão mais exclusivamente tangidos por fatalidades, mas são também responsáveis por suas escolhas éticas, morais e emocionais. As tramas e os dramas existenciais, o sentido e o valor da vida, o cotidiano banal e misterioso, amores e desencontros. As escolhas e silêncios. “Escrevo sobre isolamento e ternura, a perturbadora ambivalência nossa, frivolidade e covardia, às vezes a graça e o riso. Aqui e ali, a noite escura”, diz.